domingo, 18 de março de 2012

São José

Luiz Carlos Azevedo

Não estranhe, leitor, a simplicidade do título. Normalmente é-se levado a acrescentar algum qualificativo que realce este ou aquele aspecto particularmente saliente da vida do santo. Contudo, tratando-se de São José, o pai adotivo do Menino Jesus, o castíssimo esposo da Santíssima Virgem, o Patrono da Igreja Universal, cuja festa a Igreja celebra a 19 de março, qualquer qualificação apoucaria a sua imensíssima grandeza.
Com efeito, imagine, leitor, se lhe for possível, a fisionomia moral de um varão que teve bastante discernimento e sabedoria para guardar, defender e governar o próprio Deus-Menino e a Virgem Maria.
Um varão, modelado pela graça do Divino Espírito Santo, para ter proporção com a mais excelsa das criaturas –– Nossa Senhora, sua esposa –– e com Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo de Deus humanado, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, seu filho legal. Este é São José, descendente de David e, conforme afirma São Pedro Julião Eymard, seu sucessor no trono de Israel, pai adotivo do Filho de Deus. Quanta grandeza!
Considere-se quantas vezes São José teve nos braços o Menino Jesus, esse Menino-Deus redentor que ele foi o primeiro a adorar, depois de Maria Santíssima! Quantas vezes este Menino se terá voltado para ele e indagado: “Papai, como devo fazer tal coisa?” E São José teve os lábios suficientemente puros e a humildade suficientemente grande para, sabendo ser Deus o interrogante, responder aconselhando...
Imagine-se agora quantas e quantas vezes Nossa Senhora se voltou solícita para servir ao seu esposo, chefe da Sagrada Família! Estamos em presença de realidades que, sob aparências simples e naturais, são tão desproporcionadas com o resto dos homens, que não podemos sequer fazer idéia delas. Tal é a intimidade desse santo varão com Nossa Senhora, e como Verbo de Deus Encarnado, que sua sublimidade é simplesmente inimaginável, excedendo toda cogitação humana. Somente no paraíso celeste teremos noção de sua altíssima perfeição.

São José e o silêncio 

Os Santos Evangelhos, habitualmente tão cheios de elevada simplicidade em suas narrações, tornam-se ainda mais sóbrios quando tratam de São José. São Mateus nos diz, a respeito dele, estas poucas palavras: “Ele era um homem justo” (1, 18-20). São José é todo ele envolto em silêncios, ele inspira o silêncio, o silêncio é sua atmosfera própria. É no silêncio da noite que, repetidas vezes, durante o sono, Deus lhe manifesta seus misteriosos desígnios. Assim foi a respeito do mistério da Encarnação do Verbo no claustro virginal de sua Santíssima Esposa (cfr. Mí. 1, 18-25), assim foi quando da fuga para o Egito e do retorno. O sono, esse grande silêncio da natureza, era o templo onde São José ouvia a voz do Céu!
Toda essa atmosfera de silêncio que o envolve parece ser uma homenagem da palavra humana quando ela abdica de qualquer louvor diante do inexprimível, do insondável.
Hoje em dia, quanta gente fala aos borbotões sem ter nada para dizer, dissimulando no estrepitoso de sua linguagem, como na turbulência de suas vidas, o vazio de seus pensamentos e sentimentos. O castíssimo São José, que teria tantas coisas a nos dizer, guarda o silêncio! Talvez porque não queiramos ou não saibamos ouvi-lo. Ele conserva no fundo de si mesmo as grandezas que contempla. Nossos contemporâneos miseravelmente se deixam arrastar pelo fascínio das ninharias. São José, contudo, permanece em paz, senhor de sua alma e na posse de seu silêncio.

Na Intimidade da Sagrada Família


Quantas reflexões nos sugere o intensíssimo convívio de Jesus, Maria e José na santa casa de Nazaré. Que mistérios ter-se-ão revelado diante dos olhos deste homem a quemJesus obedecia? O que discernia São José nas ações de Jesus e de Maria? Estas ações, envoltas em simplicidade, assumiam sem dúvida a seus olhos dimensões incomensuráveis. E quando a palavra humana é chamada a se pronunciar e o homem se declara incapaz de exprimir o que traz no fundo da alma, então ele se põe de joelhos e o silêncio se levanta de dentro dele. Uma vez mais, São José envolto em seú silêncio...
O que o Evangelho narra de Nosso Senhor, que “Ele crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens” (Lc. 2,52), de certo modo se pode dizer de toda a Sagrada Família.
Em certo momento, a Providência chamou a Si aquele varão virginalíssimo, que foi assistido em seu transe derradeiro por Nosso Senhor e Nossa Senhora, os quais, até o último momento, pessoalmente ajudaram São José a elevar sua alma até aquele pináculo de perfeição moral para o qual fora criado. Um grau deperfeição tão alto e alcandorado que, acima dele, só contemplamos a Santíssima Virgem e Nosso Senhor Jesus Cristo. José havia atingido a sua plenitude de “sabedoria, idade e graça”... Por isso, em razão de toda essa assistência que recebeu, São José é merecidamente tido como o padroeiro por excelência da boa morte.
Jesus, Maria, José, três auges inimagináveis de perfeições desiguais que se amavam reciprocamente e se interpenetravam, constituindo uma ordem hierárquica admiravelmente inversa: o chefe da Sagrada Família no plano humano era o menor na ordem sobrenatural; e aquele Menino, que devia obediência a Maria e a José, era o próprio Deus! Realiza-se aqui uma harmonia de desigualdades tão sublime como nunca houve nem haverá em toda a criação.
Quanta grandeza! 

Mártir da grandeza 

Falei da grandeza de São José. Como foi ela recebida pelos homens de seu tempo? Diz o Evangelho: “E (Maria) deu à luz o seu Fiho primogênito, e o enfaixou, e reclinou numa manjedoura: porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc. 2, 7).
"Não havia lugar para eles na estalagem". A frase encerra uma verdade amarga. Os homens têm uma particular dificuldade em receber aquilo que é grande, por causa de sua mediocridade. Por vezes somos levados a achar que o gosto do homem está em tratar com o que é importante, elevado, sublime.
Infelizmente, neste vale de lágrimas, o grande apego do homem não é à grandeza, nem mesmo à riqueza, mas à mediocridade, particularmente se há nela um misto de bem e de mal, com um sabor mais acentuado de mal que de bem. Há uma tendência profunda no homem para a banalidade, avessa a toda forma de grandeza e de sublimidade. É a herança que nos vem do pecado original e que cresce com nossos pecados atuais.
Então se compreende por que não havia vontade de ceder lugar à Sagrada Família! Tanto mais que aquele nobilíssimo casal conservava, ao lado de um aspecto de excelsa bondade, um ar de grande majestade. Era um casal sumamente distinto, mas pobre.
Ora, aceitar que outros tenham distinção com riqueza, vá lá, pois a segunda faz perdoar a primeira, e o interesse em conseguir dinheiro incute uma vontade de bajular, que faz as vezes de respeito. Mas, quando se está diante do pobre que tem uma grande distinção, a qual resulta de um grau de virtude assinalada, então é a recusa.
Alguém poderia, talvez, objetar: mas, e se aquele povo soubesse que Nossa Senhora estava para dar à luz o Menino Jesus?
–– Também não receberia o santo casal!
O Menino Jesus era parecido com Nossa Senhora, era seu filho... São José também, por sua altíssima virtude, parecia-se moralmente com Ele. Aquela sociedade não queria Nossa Senhora, nem São José, nem o Menino. Apetecia a vulgaridade e a riqueza. Ora, estes não tinham nem uma, nem outra, pois eram nobres e pobres. Resultado: essa é a primeira recusa do povo, o primeiro momento em que Nosso Senhor, já na Terra, por meio de São José batia às portas dos homens sendo recusado.
Nessa rejeição, São José encontrava uma grande glória. Ele representava algo que a vulgaridade e o espírito prosáico dos judeus de então detestava. Deu-se aí o primeiro lance de seu martírio: conduzir Nossa Senhora a uma gruta, própria de animais, onde o Menino nasceu.
São José, mártir da grandeza, rogai por nós!

Fonte: Revista de Cultura Catolicismo -  Março de 1993.
 

domingo, 4 de março de 2012


            São Casimiro, filho do rei da Polônia

                                                                                                                                 *Pe Croiset

       São Casimiro era filho de Casimiro III, rei da Polônia e grã-duque da Lituânia, e de Isabel de Áustria, filha do Imperador Alberto, rei da Hungria e Boêmia. Nasceu em Cracóvia no dia 5 de outubro de 1458, e foi formado desde o berço na virtude e na piedade pelos cuidadosos desvelos da rainha sua mãe, uma das mais religiosas princesas do seu século.
       A índole natural de Casimiro facilitou a sua educação; e o seu talento vivo e penetrante realizou em muito pouco tempo maravilhosos progressos na ciência. Porém mais rápidos e admiráveis foram os que fez na virtude. É difícil imaginar mais inocência, mais devoção, num príncipe de tenra idade.
         O brilho duma das mais ilustres famílias da Europa, longe de fasciná-lo, nem sequer lhe mereceu um momento de atenção: Filho de rei,  irmão de rei, e eleito ele próprio rei da Hungria , nunca estimou senão a augusta qualidade de cidadão do céu, único título que se dava a si mesmo.
         Inimigo dos mais ordinários e mais honestos divertimentos, nada encontrava mais doce e do seu agrado do que passar largas horas na Igreja ao pé dos altares, fazendo corte, como ele dizia, a Jesus Cristo; encontrava todo o desenfado do passeio, do jogo e da caça.
          Era tão particular e tão terna a devoção que o bem-aventurado jovem professava à sagrada Paixão do Senhor, que ao ouvir falar das dores e dos tormentos que se lhe representaram no Horto e padeceu no Calvário, ao considerar aquele excesso de amor que O fez vítima de nossos pecados, só com pôr os olhos no crucifixo, se lhe arrasavam os olhos de lágrimas, e não poucas vezes caía numa espécie de delíquio, que parecia verdadeiro desmaio.
          Não houve, nem haverá predestinado algum que não professe uma terníssima devoção à Santíssima Virgem; a de São Casimiro a esta Rainha dos escolhidos era extraordinária. Chamava-a sua boa Mãe, e falava Dela sempre com excessiva ternura e nos termos mais enérgicos, para manifestar o respeito e o ardente amor que lhe consagrava. Para desafogar em parte a sua ardente devoção à Imperatriz dos Anjos, além de doutros muitos devotos exercícios, que lhe eram familiares, compôs em sua honra, sendo ainda muito jovem, uma espécie de prosa rimada, cheia dos mais ternos afetos do seu coração, da qual damos a tradução:
        “Não deixes passar, ó minha alma, dia algum sem render os teus respeitos a Maria; soleniza com devoção as suas festas, celebra as suas assombrosas virtudes.
        Admira a sua grandeza e a sua elevação sobre todas as criaturas; não cesses de publicar a dita que teve de ser Mãe de Deus sem deixar de ser Virgem.
         Honra-a como tua Rainha, para que te alcance o perdão dos pecados; invoca-a como tua boa Mãe, e não permitirá que sejas arrastado pela torrentes das paixões.
         Ainda que sei muito bem que Maria está acima de todo o louvor, também sei que é impiedade, que é loucura deixar de a louvar.
         Ela deve ser singularmente amada e exaltada por todos os homens; e não deveríamos jamais cessar de louvá-la, bendizê-la e invocá-la.
        Virgem Santa, ornamento e glória do vosso sexo, Vós sois reverenciada em toda a terra, e estais colocada tão elevadamente no céu...
        Dignai-vos ouvir as orações dos que se gloriam em cantar os vossos louvores; alcançai-nos o perdão dos nossos pecados, e fazei-nos dignos da felicidade eterna.
        Deus vos salve, Virgem e Mãe, pois por vós se nos abriram a nós miseráveis as portas do céu, por vós a quem a antiga serpente não pôde morder nem enganar.
       Depois de Deus ninguém teve maior que vós em a nossa redenção; por isso pomos em vós toda a nossa confiança, e esperamos por vossa santa intercessão que não nos há de tocar a infeliz sorte dos réprobos.
         Livrai-me desse lago de fogo, onde se padecem todos os tormentos, e obtende-me por vossas orações um lugar na estância feliz dos bem-aventurados.
         Alcançai-me uma pureza inalterável, uma modéstia que edifique, um doçura universal, uma devoção constante, uma prudência verdadeira, um coração sem artifício e um espírito reto.
Desterrai do meu coração todo o sentimento de aversão ou de tibieza; acendei nele uma caridade perfeita; extingui todo o sentimento, toda a inclinação da concupiscência; consegui-me a perseverança final, e que eu ache em Vós toda a assistência que for necessária contra os inimigos da minha eterna salvação!”
          Da notável simplicidade deste hino ressaltam bem os ternos afetos do santo príncipe para com a Mãe de Deus. Não contente com o rezar todos os dias em forma de oração, quis ser enterrado com ele, e cento e vinte anos depois de sua preciosa morte foi encontrado na sepultura debaixo da sua cabeça.
         Os doze anos que lhe restaram de vida dedicou-os inteiramente a santificar-se cada vez mais pela prática de todas as virtudes, e especialmente pelo exercício duma rigorosíssima penitencia. Trazia sempre um áspero cilício; o seu jejum era perpétuo; dormia no chão ao pé da riquíssima cama que só era de honra e de respeito, passando de ordinário na oração a maior parte da noite.
         Ainda que jovem de galharda disposição, e criado entre as delícias da corte, conservou até expirar a sua primeira inocência. Fez voto de perpétua castidade logo que teve a idade e reflexão para conhecer o que vale esta heróica virtude.
        Vã mente o quiseram persuadir e instaram com ele a que se casasse; não houve razão, nem de estado, nem de família, nem da própria saúde que vencesse a constância do bem-aventurado jovem, em conclusão, quis antes perder a vida que a virgindade. Já estava o santo príncipe muito maduro para o céu. Não parecia justo que a terra possuísse por mais tempo um tesouro tão precioso, que o mundo não era digno.
          Ao lento, porém maligno ardor duma febre contínua foi-se dispondo com muito tempo para a morte. Redobrou a devoção e fervor; e tendo recebido os últimos sacramentos com extraordinário piedade, chegado enfim o dia 4 de março de 1483, aos vinte e três anos e cinco meses de idade, teve a morte dos justos em Wilna, capital do gran-ducado da Lituânia, de quem era senhor. Logo quis Deus patentear a santidade do seu fiel servo com muitos milagres.
P Papa Leão X terminou o processo de sua canonização com a maior solenidade, sendo desde então reconhecido por singular protetor da Lituânia e da Polônia. No ano de 1604, cento e vinte depois da sua ditosa morte, foi encontrado inteiro e incorrupto o sagrado corpo; e na descrição autêntica desta maravilha, que com autoridade do bispo de Wilna se fez na presença de todo o cabido e dos principais daquela cidade, diz-se que os preciosos vestidos com que foi enterrado se acharam tão inteiros e tão novos, como se lhe tivessem sido postos naquele mesmo dia, embora a umidade do sítio houvesse penetrado as pedras da abóbada e as proximidades do sepulcro. Acrescenta-se que por espaço de três dias se notou uma admirável fragrância em toda a igreja, e que se achou debaixo da cabeça do Santo a devota prosa ou hino em honra da Santíssima Virgem, que acima traduzimos, escrito todo de seu punho, e que ainda se conserva como preciosa relíquia.
          O antigo autor da sua vida diz que se invoca a intercessão de São Casimiro principalmente para obter de Deus o dom da castidade, para ser preservado da peste e contra as incursões dos infiéis.

(Livro Ano Cristão – Volume III, mês de Março)
Digitalização: Hypolito Neto – Página Católica Pe David Francisquini.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


A popular bênção de São Brás contra enfermidades

                      Pe. David Francisquini



São Brás foi bispo de Sebaste (Turquia), martirizado no ano de 316, sempre  invocado para solucionar os males de garganta. Sua festa dá-se a 3 de fevereiro, quando as velas de cera a serem bentas seguem as normas do Ritual Romano.  Procede-se a cerimônia predispondo duas velas em forma de cruz presas por uma fita vermelha, lembrando o seu martírio, auge de heroísmo e amor em defesa da fé católica. Não fazendo nenhuma concessão aos erros que se opõem à doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornou-se modelo de bispo, cheio de vigilância e de incansável zelo pelas suas ovelhas. Modelo de pastor e pontífice, não hesitou um instante sequer na defesa intrépida da fé e enfrentou corajosamente o martírio, derramando seu sangue para confirmar no bom caminho a  grei  que Deus providencialmente lhe confiou.
Habitualmente os pais levam os seus filhinhos à igreja para evitar esses freqüentes males em tão tenra idade. Sou testemunha de muitos casos insolúveis em que as crianças foram agraciadas com a intercessão e ajuda do poderoso santo. Não só os pequeninos recebem sua proteção, mas também os adultos. Pena que tão salutar e aconselhável costume é relegado à poeira do passado. Em conseqüência do relaxamento religioso e avidez de inovações, guiado pelo revanchismo e preconceito de tachar os hábitos tradicionais de velharias emboloradas, as igrejas ficam vazias, enquanto os fiéis vão em busca de solucionar seus problemas em lugares escusos.
 De acordo com o Ritual Romano, o ministro da Santa  igreja, ao abençoar as velas em honra de São Brás, passa a  invocar a Deus Onipotente, pleno de ternura e bondade, criador das variedades dos seres que, para renovar o próprio homem, e torná-lo  participante da graça divina, veio a esse mundo o Filho unigênito do eterno Pai. Ele se encarnou e se fez homem para fazer bem à humanidade  inteira. Esse mesmo Deus  imenso, digno de temor e de todas as homenagens, se dignou ainda fazer tantas maravilhas, instituiu a maravilha das maravilhas que é a Santa Igreja Católica. Ela, sendo a Esposa mística de Cristo,  recebeu do Seu divino Fundador o poder  incomparável  de salvar as almas. A  Igreja, nessa data, lembra ainda a Deus a fé de São Brás que a proclamou sem temor, enfrentando os  tormentos mais variados e conquistou assim, para si, a palma do martírio, sendo exemplo e modelo de bispo. Além de outras graças lhe conferiu o dom dos milagres, por sua virtude de curar os males da garganta. Humilde e confiante o ministro de Deus se volta para a Majestade infinita, implorando para não olhar as nossas culpas mas seja aplacado por sua venerável bondade e pede ao bom Deus abençoar e santificar esta cera, criatura Vossa e infundir nela a graça divina e em que todos aqueles cujos pescoços forem tocados por ela, com fé, fiquem  livres de toda doença da garganta pelos merecimentos do martírio do santo e receba  saúde,  alegria e as graças e que dentro do redil de Jesus Cristo possam sempre louvar a esse Deus que é glorioso por todos os séculos.
Por sua vez,  o padre asperge com água benta as velas que são  impostas  ao pescoço de cada fiel, em forma de cruz dizendo a seguintes palavras: “Pela intercessão de São Brás, bispo e mártir, livre-te Deus dos males da garganta ou de qualquer outra doença. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém”. O sacerdote abençoa cada um, traçando uma cruz, com a mão direita.
Convém ainda ressaltar que a  Igreja, nossa Mãe, para enriquecer essa festa, instituiu uma outra bênção para beneficiar as almas, com os dons divinos, podendo ainda abençoar a água potável, pães, vinho e frutas e todos aqueles que fizerem um bom uso desses alimentos recebam a saúde da alma e do corpo em honra do glorioso santo. A  Igreja, verdadeira mãe, se preocupa dedicadamente sanar e aliviar as mazelas que atormentam a alma e o corpo de seus filhos e ajudá-los misericordiosamente a confiar na ajuda do céu.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

São João da Mata
Fundador da Ordem da Santíssima Trindade
                                                     
                                                                                                                       Plinio Maria Solimeo

A Providência suscitou este santo fundador dos trinitários no final do século XII, para romper as cadeias dos cativos cristãos em terras muçulmanas

Vivia-se então na época heróica das cruzadas. Na Espanha e no Oriente os cristãos lutavam sem cessar contra os inimigos da cruz, e muitos caíam vivos em seu poder. Além disso, os piratas mouros infestavam as costas do Mediterrâneo, capturando navios e atacando pequenas cidades do litoral, para levar como escravos toda pessoa válida que encontravam. Em Túnis, no Marrocos, em Trípoli, no Egito e na Síria os calabouços e os porões das casas particulares estavam repletos de cristãos que, amontoados, maltratados, mal vestidos e pior alimentados, corriam grande perigo espiritual. Era preciso fazer algo para aliviar essa terrível tragédia. Foi o que realizaram São João da Mata e São Félix de Valois fundando a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos.


Voto de castidade aos dez anos



 
A Ordem e a Regra dos Trinitários foi aprovada
pelo Papa Inocêncio III
São João da Mata é originário de Faucon, pequena cidade da Provença, na França, filho do barão Eufêmio da Mata e de Marta, descendente de uma das maiores famílias da região. Nasceu no dia 23 de junho, véspera da festa de São João Batista no ano de 1160, recebendo o nome do precursor.
Pouco antes de ele nascer, sua mãe rezava fervorosamente a Deus pedindo um feliz parto, quando lhe apareceu a Santíssima Virgem, revelando-lhe que o menino que trazia no seio seria um assinalado redentor dos cativos. A influência que essa mãe profundamente cristã teve sobre seu filho foi grande.
Tendo apenas dez anos de idade, João fez voto de castidade. O barão, entretanto, apesar de muito religioso, tinha grande esperança no futuro desse filho muito bem dotado para o estudo. Queria que estudasse humanidades e fizesse uma boa carreira no mundo. Para isso mudou-se para Marselha, onde João fez seus primeiros estudos, indo depois para Aix, também na Provença, célebre então por seus bons professores.
Cursou depois a sagrada teologia na célebre universidade de Paris, onde ligou-se em estreita amizade com um jovem professor italiano, João Lotário, a quem predisse que se tornaria Papa.
Certa vez em que tinha de sustentar uma tese difícil e complicada, resolveu as dificuldades teológicas com tal desenvoltura e precisão, que seus mestres ficaram pasmos de admiração.
Doutorando-se em teologia, recebeu as ordens sacras. Quando o bispo lhe impunha as mãos no momento de sua ordenação sacerdotal, viu-se uma coluna de fogo repousar sobre sua cabeça. Todos compreenderam que a Providência Divina tinha grandes desígnios para o jovem sacerdote.


Deus indica em êxtase sua missão

Missa celebrada por São João da Mata
Quando São João da Mata celebrava a primeira missa – em presença do bispo de Paris, dos abades de São Vítor, de Santa Genoveva e de grande público -- entrou em êxtase e viu sobre o altar um anjo vestido com um hábito branco, com uma cruz encarnada e azul no peito, tendo a seu lado dois cativos com gestos suplicantes. Compreendeu que deveria fundar uma ordem religiosa para redimir os cativos da tirania dos sarracenos, e depois o bispo D. Maurício de Sully, a quem contou a visão, também assim o interpretou. O bispo o incentivou a ir a Roma apresentar seu pedido ao Pai comum dos fiéis.
Mas antes São João da Mata quis preparar-se para essa grande missão, no isolamento e na meditação. Movido por um impulso interior, foi para as montanhas da diocese de Meaux, onde encontrou um solitário, São Félix de Valois, vivendo na oração e penitência. Também este havia ouvido uma voz interior, que o convidava a deixar a solidão e a procurar socorrer os desgraçados cativos dos mouros. Conferindo um com o outro esse chamado sobrenatural, resolveram dedicar-se à oração, à espera de algum sinal que o confirmasse.
Essa espera durou três anos. Num dia em que estavam entregues à oração, viram um cervo branco que tinha entre os chifres uma cruz, com as mesmas cores do hábito do anjo que aparecera a São João da Mata. Viram nisso o sinal esperado, e partiram para Roma a fim de apresentar ao Papa seu plano.
Nesse meio tempo fora eleito o novo Pontífice, Inocêncio III, que não era senão o padre João Lotário, antigo professor em Paris, com apenas 36 anos de idade.
O Soberano Pontífice submeteu ao exame do Sacro Colégio esse projeto, ao qual deu muita importância. Também quis interessar a piedade dos fiéis por essa obra de salvação, pedindo orações especiais. Com o mesmo fim, foi celebrar a santa Missa na basílica de Latrão. Diz a tradição que, na hora da consagração, Inocêncio III teve a mesma visão do anjo com os dois cativos, que tivera São João da Mata, o que o fez decidir-se pela aprovação da ordem. O próprio Papa impôs o hábito branco aos dois santos, nascendo assim a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos. Desse modo, mesmo antes que as constituições fossem escritas, a obra de São João da Mata e de São Félix de Valois foi reconhecida como uma das grandes instituições da Igreja.
O Sumo Pontífice encarregou o bispo de Paris e o abade de São Vítor de escreverem as constituições da nova ordem. Além da redenção dos cativos, os trinitários deveriam dedicar-se também aos mais desprovidos e ao cuidado dos doentes.



 
Conhecido como o “Apóstolo da Dalmácia”

Curiosamente, os primeiros membros a serem admitidos na nova ordem religiosa não foram franceses, mas os ingleses Roger Dees e João, o Inglês, e um escocês, Guilherme Scot, antigos condiscípulos de João da Mata.
São João da Mata desejava ser dos primeiros a atravessar o mar para resgatar cristãos, mas o Papa, temendo que ele fosse vítima de seu zelo, deu-lhe outra missão, com perda para toda a ordem; fazer retornar a paz nas igrejas da Dalmácia e da Sérvia. Em virtude disso, ele ficou conhecido como apóstolo da Dalmácia.
Entrementes Guilherme Scot e João, o Inglês, voltaram do Marrocos, trazendo os primeiros 186 escravos resgatados.
São João da Mata, para dispor de auxiliares que coletassem as esmolas e o auxiliassem nos trabalhos de retaguarda, fundou a Confraria da Santíssima Trindade, constituída por leigos.
Quando a ordem cresceu o suficiente, o santo quis socorrer também os cristãos italianos aprisionados em Túnis e Trípoli. Acompanhado de alguns dos seus, partiu para Tunis, onde pôde observar que, sendo a cidade mais pobre que as do Marrocos, seus habitantes eram ainda mais selvagens e primitivos, o que redundava em serem muito mais cruéis e desumanos para com os cristãos.
Vendo o zelo com que o santo incitava os cristãos a morrer antes que abandonar a fé, os sarracenos procuraram vingar-se dele. Certo dia, quando o encontraram só, caíram sobre ele com porretes, deixando-o estendido no chão esvaindo-se no próprio sangue. Mas Deus conservou milagrosamente sua vida, e ele entregou-se então com novo ardor ao apostolado.


Abençoa o futuro São Fernando III, o Santo

O santo ouviu então outro apelo: o da Espanha, cujo território em grande parte estava em poder dos muçulmanos, com os mesmos problemas que nos outros lugares, e para lá foi. Dom Alonso, rei de Castela, apresentou-lhe então sua família, pedindo que a abençoasse. Vendo o infante de sete anos de idade, predisse que ele estava destinado a expulsar os mouros de quase toda a Espanha. Foi o que sucedeu, pois o menino não era senão o futuro Fernando III, o Santo, que não perdeu nenhuma batalha contra os mouros. 
 Em outra viagem a Túnis, os muçulmanos duplicaram o resgate que haviam antes combinado pelos prisioneiros. No momento em que estavam embarcados para voltar à Europa, os infiéis invadiram o navio, quebrando e rompendo tudo, inclusive remos e velas. São João da Mata pôs então seu manto como vela, e erguendo seu crucifixo, suplicou à Estrela do Mar que lhes fosse propícia. Uma multidão entusiasmada viu chegar a embarcação no porto de Óstia, sem maiores problemas.
Nessa ocasião chegou a Roma D. Rodrigo, bispo de Toledo, com a missão de obter reforços para auxiliar os cristãos comandados pelo rei Dom Alonso, contra nova investida dos mouros. São João da Mata escolheu seus mais corajosos súditos para assistirem os soldados da cruz. No memorável dia 16 de julho de 1210, os dois exércitos se encontraram na planície de Tolosa. Os cristãos, como leões, lançaram-se sobre os mouros, obtendo estupenda vitória. Mas foi preciso depois cuidar dos mortos e feridos, e dessa tarefa encarregou-se a caridade de São João da Mata.
Coroado de glória, São João da Mata faleceu no dia 17 de dezembro de 1213, tendo antes a alegria de ver seus filhos espirituais penetrarem na Ásia com os intrépidos cruzados de Jerusalém.

Obras consultadas:
? Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., San Juan de Mata Y San Félix de Valois, in Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, pp. 256 e ss.
? Les Petits Bollandistes, Saint Jean de Matha, in Vie des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo II, pp. 387 e ss.
? Pe. Pedro de Ribadeneira, San Juan de Mata, in Dr. Eduardo Maria Vilarrasa, La Leyenda de Oro, L. Gonzalez y Compañia – Editores, Barcelona, 1896, tomo I, p. 407.
? Edelvives, San Juan de Mata, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I, pp. 393 e ss.
? Michael M. O’Kane, St. Felix of Valois, in The Catholic Encyclopedia, www.NewAdvent.org

Fonte: Revista de Cultura Catolicismo - Fevereiro de 2010.